quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Texto complementar:Os povos africanos e o início do mundo - 6º ano

Os povos africanos e o início do mundo

Diz um conto africano que antes de o mundo ser mundo existia apenas um grande vazio, um nada sem fim. Ao perceber esse vazio, Olodumaré resolveu que iria inventar o mundo, com todas as coisas que há nele: cores, bichos, pessoas, ar, tempestade... e tudo mais. Usufruir o que o mundo lhe oferecia.
Mas Olodumaré não poderia criar tudo sozinho, por isso pediu a Nanã que fizesse a lama, na qual Oxalá modelou o homem. Depois de pronto, o homem ganhou o sopro da vida e a possibilidade de usufruir o que o mundo lhe oferecia.
Essa interpretação da origem do universo e da humanidade é contada há muitos séculos por povos africanos. É uma explicação repleta de elementos sobre a relação entre o homem e a natureza.
Foi no continente africano que surgiram os grupos humanos mais antigos de que temos notícias. Hoje sabemos que as populações do Egito, por exemplo, surgiram há aproximadamente 5 mil anos e alcançaram um fabuloso nível de desenvolvimento social, econômico e político.
Conhecer a história da África é, portanto, uma excursão pelo próprio surgimento da humanidade e de seus progressos tecnológicos. A produção de ferro era realizada em algumas regiões da África, em torno de 600 a. C., por meio de um sistema de aquecimento do metal que só passou a ser empregado na Europa centenas de anos depois, no século XIX. Assim, era possível encontrar na África povos que dominavam a produção de ferro de boa qualidade para o fabrico de ferramentas, armas e objetos utilitários como facas, enxadas e machados.
Até o século XX, o continente africano não estava dividido em países como hoje. Essa forma de organização social foi imposta pelas nações europeias no processo de colonização, que ocorreu, mais ou menos, entre 1890 e 1960. Antes da chegada dos europeus, as sociedades africanas estavam organizadas de muitas maneiras. Existiam grupos nômades, reinos, impérios e pequenas aldeias, habitadas por quem tinha em comum a descendência, a fé religiosa, atividades de trabalho e o idioma. Em algumas comunidades marcava-se o corpo e o rosto, as chamadas escarificações, como sinais de pertencimento a determinado lugar ou grupo familiar.
A própria existência das comunidades dependia da preservação da memória e do culto aos antepassados, por isso os mais velhos eram tratados com muito respeito e usufruíam alguns privilégios, como as melhores moradias.
As aldeias podiam estar ligadas por vínculos de parentesco graças aos quais as várias famílias compartilhavam um território ou estavam submetidas ao mesmo rei, devendo-lhes impostos e obediência. A arrecadação dos impostos geralmente ocorria na época da colheita ou quando os produtos eram colocados à venda nas feiras. Essa rede de arrecadação de impostos podia sustentar reinos e impérios.
Quando chegaram ao continente africano, os europeus encontraram tanto aldeias isoladas quanto cidades bem estruturadas e impérios poderosos. Eram impérios como o Mali, que tinha se consolidado ao longo de séculos e possuíam uma ordem social, política e econômica que lhes garantia poder e riqueza. Por tudo isso, não se pode estudar essa África tão grande e diversa como se os africanos fossem todos iguais.
Calcula-se que, desde a primeira metade do século XVI até 1850, quando o tráfico de escravos foi proibido, cerca de 4 milhões de africanos vieram escravizados para o Brasil. Eram pessoas de lugares e grupos bem diferentes, que traziam consigo diversas interpretações sobre a origem do mundo, religiosidade, vivência familiar, modos de vestir e de se relacionar com os outros. Tinham, enfim, uma cultura rica, complexa e diversificada. Afinal, no grande continente que é a África viviam povos com tradições, formas de organização social e política próprias.
Os povos africanos registraram as próprias histórias, por meio de documentos escritos, da tradição oral, da arte, da literatura, das celebrações e tantas outras formas de expressão. Esses registros são muito importantes porque tratam da história que povos africanos contam de si mesmos e do contato com os outros. Os contos e lendas, por exemplo, são fontes importantes de saberes, porque revelam interpretações sobre as mais diversas experiências humanas e nos remetem a tempos muito antigos, bem anteriores à existência do Brasil como país.






REFERÊNCIA:

ALBUQUERQUE, Wlamyra. FRAGA, Walter. Uma História da cultura Afro-Brasileira. São Paulo: Moderna, 2009.

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